Carta de Amor – 20/11/2020

José,

Esta não foi a melhor forma de dizer adeus. Foi a possível!

Não vejo o que tenhas para falar comigo. Penso que não existe lugar para mais palavras entre nós… porque o nós se apagou. Morremos, não foi José?

Conhecendo-te como te conheço, acredito que queiras falar de questões práticas, mas eu não consigo. Desculpa, mas não tenho nada de razão em mim. Apetece-me chorar e lamentar-me por tudo isto… magoámo-nos tanto, tanto… já não somos nós e dói horrores perceber que não mais te irei abraçar e beijar. Só me apetece falar disto, por isso não consigo falar sobre o que tu precisas de falar.

José, és o Amor da minha vida! Lamento não ter maturidade para te fazer feliz ou que não tenhamos sido feitos um para o outro. Não é justo que nos acusemos: cada um tem a sua visão da vida e das coisas. Tu não podes nem deves evitar ser quem és e como és, mas eu também não. E se lamento porque te fiz sofrer, lamento também por ser egoísta, porque te adoro e sinto a tua falta: a pessoa que és, o Homem que mostras ser, os teus olhos, o teu sorriso, a tua voz, o teu cheiro, a tua pele… tudo! Queria tanto estar nos teus braços agora.

Preciso de te agradecer: mostraste-me um Mundo inteiro de emoções e sentimentos novos, verdadeiros e intensos! Fizeste-me Mulher, mas fizeste-me perder o controle como uma menina traquina. Apaixonei-me por ti e estou completamente envolta nessa paixão. Sabes, ao contrário do que dizem, o Amor não acalmou nada… pelo contrário: é uma força incontrolável e inexplicável, é mesmo “fogo que arde sem se ver”. Obrigada pelo meu primeiro abraço, pelo meu primeiro beijo. Obrigada por me fazeres levitar, por me teres feito acreditar, por me teres ensinado que o Amor é tudo e sem ele a vida é quase nada. Obrigada por me teres feito sentir a única e a mais especial das Mulheres!

A tua pegada em mim é infinita…não sei como respirar depois disto. Sem ti, vai-se o brilho. Está na altura de me afastar para que a tua luz não se apague, mas não sei como fazê-lo. Sinto-te em mim.

Desejo muito que sejas feliz. Desejo que consigas estar mais tempo com as pessoas que amas, as tuas pessoas – que de alguma forma já são também um pouco minhas – e que juntos façam muitas coisas e soltem muitas gargalhadas. Se algum dia perguntarem por mim, diz-lhes que o meu coração está repleto de Amor por elas e que elas farão sempre parte da minha história. Diz-lhes que conhecê-las foi um dos grandes presentes que tive na vida, que nunca as esquecerei e que um dia, se Deus assim o entender, vamos poder abraçar-nos outra vez!

Espero que um dia consigas perdoar-me por todo o mal que te fiz.

Tenho saudades tuas… meu doce José.

Para sempre tua,

Susana

Ser Amor

Avó Prazeres

As primeiras palavras deste separador são para a minha Avó Prazeres! Atrevo-me a fazê-lo porque é justo.

Quero que saibam que a minha avó foi a melhor de todas… foi minha mãe! Do alto do seu metro e meio a minha avó foi uma Mulher gigante. Movia montanhas com um sorriso nos lábios fazendo tudo parecer fácil e prazeroso. Nada lhe pesava, nada lhe custava… fazia tudo com e por Amor!

Era linda a minha avó. Quem a conheceu mais nova dizia que parecia uma artista! A minha avó tinha 50 anos quando perdeu o seu amor – o meu avô. Todas as memórias que tenho dela são posteriores a esse momento que sei que foi devastador. Os netos agarraram-na à vida e foi com os netos que foi recuperando o sorriso de menina. Eu gostava tanto da sua gargalhada e das lágrimas que lhe vinham aos olhos de tanto rir.

Gostava do seu cheiro a sabonete Lux que de manhã se misturava com o do creme Nivea deixando no primeiro beijo do dia um aroma fresco, porém doce. Gostava de lhe fazer as sobrancelhas enquanto ela dormitava. Gostava de ao domingo, depois da missa, ir com ela ao café do Roque e de a ver beber o seu café cheio e comer – com uma colher – o seu pastel de nata com gosto e satisfação. Gostava da forma como ela me dava a mão entrelaçando os dedos nos meus como se nada nos pudesse separar. E ela tinha razão!

A minha avó era linda, muito, muito mais do que a mais bela artista, mesmo quando já não era tão nova assim. Tinha o brilho e o viço de quem era feliz em fazer os outros felizes… Todos os dias um pouco mais!

A minha avó era sábia! Sabia das coisas, das pessoas, da vida.

E sabia sobre o Amor.

Não sobre esse amor que agora se fala e que é descartável, mas de um Amor verdadeiro e completo, um Amor que está em todas as coisas porque não cabe em nós de tão grande, um Amor que corre nas veias e que transpira por todos os poros. Não é um amor que magoa, humilha que maltrata, mas antes, um Amor que mima, cuida e protege. Este Amor, o Amor da minha avó, é primeiramente tímido e pequenino e cresce todos os dias um bocadinho, mais e mais e mais… não tem pressa, nem se assusta, é intenso, porém cauteloso e precisa de ser correspondido na mesma forma e medida. Quem ama espera, porque quem ama acredita, ou melhor, quem ama sabe! O Amor da minha avó cresce com o passar do tempo e é infinito.

Amor é conversar a beber chá preto durante a madrugada e só dar conta da hora quando o sol começa a espreitar na janela da cozinha!

Amor é dar beijos e abraços que não terminam e aquecer os pés frios de quem se ama mesmo que os nossos fiquem gelados!

Amor é obrigar o outro a comer um bife para o curar da gripe!

Amor é comprar o bilhete de cinema, ir dar uma volta e perder a matiné… e rir disso, rir muito!

Amor é aceitar casar sem sequer saber a idade do noivo, mesmo depois de quase dois anos de namoro!

Amor é alegria em todas as coisas e gratidão por todos os momentos juntos!

O Amor da minha avó é carne, pele e sangue.

Eu acredito… eu sei!